segunda-feira, 26 de setembro de 2011

ÍNDIA --- Trabalho de Biologia 24/09

Quando começaram a proclamar que «Anna é Índia, Índia é Anna», os partidários do veterano activista em greve de fome por uma lei anticorrupção sabiam estar a recuperar uma velha palavra de ordem, usada em tempos pela mulher mais poderosa do país, Indira Gandhi. Mas se a antiga primeira-ministra assassinada em 1984 mostrou ser uma política extraordinária ao fazer eleger-se quatro vezes para o cargo mais importante do país convencendo que «Indira é Índia, Índia é Indira», já Anna Hazare, homem de 74 anos apesar de o seu nome soar a feminino, vê nos políticos de hoje gente normal. Tão normais e tão sujeitos à tentação da corrupção como quaisquer outros dos 1200 milhões de indianos. Por isso a sua greve de fome em meados de Agosto para forçar o Parlamento a incluir na nova lei anticorrupção, adiada durante quatro décadas, o primeiro-ministro e outras altas figuras de início isentas de fiscalização. Pressionado, o actual chefe do governo, Manmohan Sing, teve de dar-lhe razão. Rahul Gandhi, neto de Indira e apontado como futuro primeiro-ministro, também. Hazare, que mobilizou a opinião pública com o recurso aos velhos métodos de luta pacífica copiados de mahatma Gandhi, saiu vencedor em toda a linha.Foi Indira quem acabou com os privilégios dos marajás. Na independência da Índia, em Agosto de 1947, seiscentos príncipes possuíam títulos como marajá, rajá, nababo ou nizam. Todos gozavam de inúmeras honras durante a colonização britânica e alguns eram tão ricos que a sua vida se resumia a caçar tigres. Depois de 1971, a maioria dos marajás só não passou a viver na miséria porque transformou os seus palácios em hotéis de luxo, o que lhes permitiu manter certas aparências do passado, mesmo que já não haja felinos selvagens para caçar e a tradição seja até malvista. Mas se os nobres de turbante e direito a salvas de canhão nas festas nacionais pertencem ao passado, a Índia conta hoje com uma espécie de novos marajás, os homens de negócios que souberam aproveitar a maré liberalizadora, iniciada por Singh em 1991 quando era ministro das Finanças, para acumular fortunas inimagináveis mesmo para o último nizam de Hyderabab, famoso pela sua oferta de diamantes à rainha de Inglaterra. Só na última lista da revista Forbes constam 55 bilionários indianos, donos de fortunas que medidas em dólares precisam de pelo menos dez algarismos para serem contabilizadas. Lakshmi Mittal, sexto mais rico do mundo com 31 mil milhões de dólares, e Mukesh Ambani, nono com 27 mil milhões, são os mais conhecidos desses novos-ricos indianos, principais beneficiários do fim do controlo estatal sobre a economia, que permite taxas de crescimento de 9,5 por cento (2010) e a emergência da Índia como décima potência mundial, quarta se a riqueza for medida em paridade de poder de compra. Sabe-se que os modernos magnatas podem ser tão extravagantes como os antigos marajás, e Mittal tem fama de ter pago à filha a mais cara festa de casamento de que há memória, enquanto Ambani não se livra da polémica em volta da sua mansão de sessenta andares. Mas o grande problema actual da Índia não são os 55 bilionários, são sim os quatrocentos milhões de pobres.Mahatma Gandhi, que serve de inspiração hoje a Anna Hazare e foi protector da jovem Indira (o apelido Gandhi da filha de Jawaharlal Nehru vem do marido), foi o campeão da independência da Índia, mas não de uma Índia qualquer. Apesar de ter sido advogado na Inglaterra e na África do Sul, habituado a usar os melhores fatos em tribunal, Mohandas Gandhi, a quem o poeta Rabidranath Tagore chamou mahatma («grande alma»), percebeu a meio da vida que as massas indianas nunca responderiam ao apelo de um líder ocidentalizado, com o qual não se identificassem. E por isso ainda na África do Sul trocou a casaca, o colete e as calças por um tecido branco que enrolava à volta do corpo como os ascetas da sua terra natal. Com o seu novo aspecto de profeta e um discurso de unidade anticolonial, o mahatma conseguiu transformar o Partido do Congresso num poderoso movimento que obteve a independência da Índia. Em vez de apelar às armas, fez do pacifismo a sua principal arma, usando as greves de fome para forçar pouco a pouco os britânicos a desistirem da sua jóia da coroa. Ao seu lado nessa luta estiveram homens como Nehru, que seria o primeiro primeiro-ministro da nova Índia e que, apesar de vir de uma família riquíssima, aderiu de corpo e alma aos ideais de humildade que Gandhi desejava para o país. Ideais de humildade que fizeram mesmo que milhões de indianos seguissem o exemplo de mahatma Gandhi e tecessem o seu próprio dhoti, um vestuário branco, de algodão, que ainda hoje é popular entre os deputados, desejosos de imitarem o herói nacional.Anna Hazare tinha apenas 10 anos quando um fanático hindu assassinou o mahatma em 1948. Havia quem não apreciasse o discurso de unidade entre hindus e muçulmanos (sobretudo depois de o Paquistão se ter separado) e as denúncias do sistema de castas, com Gandhi a chamar harijans, ou «filhos de Deus», a esses intocáveis que estavam há milénios no fundo da escala e eram vistos como impuros pelos outros indianos. Mas não foi de imediato que Hazare decidiu seguir o destino do líder assassinado. Chegou ainda a ser motorista de camiões militares e a participar numa das guerras entre a Índia e o Paquistão, o país que os colonizadores britânicos deixaram também nascer em Agosto de 1947 para ser pátria dos muçulmanos. Mas o Hazare que hoje aparece nas primeiras páginas dos jornais do mundo inteiro soube com o tempo tornar-se um veterano da contestação aos poderosos. Esta foi a sua 16.ª greve de fome e também a mais prolongada. Até aceitar as garantias dos políticos de que a nova lei anticorrupção seria melhorada, e assim interromper o jejum com um sumo de fruta oferecido por uma criança, o activista tinha já perdido sete quilos. E para um septuagenário, a continuação do protesto, por poucos dias que fosse, significaria um enorme risco para a saúde. Com medo da reacção da opinião pública, com pavor de criarem um mártir, os políticos cederam, a começar pelo Partido do Congresso que é liderado por Sónia Gandhi, viúva do ex-primeiro-ministro Rajiv e nora de Indira. Durante estes 64 anos de independência, a Índia tem sido governada na maior parte do tempo pela força política apadrinhada pelo mahatma, a qual depois de ter patrocinado um socialismo de rosto democrático se rendeu ao liberalismo económico.O drama do novo sucesso económico indiano é que tarda em retirar da pobreza um terço da população. E se a miséria era já difícil de suportar numa Índia convertida à humildade e austeridade, como nas primeiras décadas, agora é chocante quando se nota o contraste entre os que nada têm e os que exibem a nova riqueza. O outro drama das taxas de crescimento económico quase à chinesa é a nova dimensão da corrupção. Deixou de ser umas rupias pagas a um funcionário para agilizar um processo preso na burocracia estatal para ser um negócio de milhões que envergonha uma nação que ainda há pouco tempo se orgulhava de ver os seus governantes usarem o robusto Ambassador, um carro nacional com tecnologia velha de meio século, em vez dos bólides europeus ou japoneses. A razão do apoio nacional ao protesto de Hazare foi a chuva de escândalos recentes, com denúncias de corrupção a vários níveis do Estado desde a concessão de licenças de telecomunicações até à organização dos Jogos da Commonwealth, passando pela atribuição ilícita de casas destinadas a viúvas de guerra. Hazare fez-se fotografar em Nova Deli com um enorme cartaz de Gandhi atrás. O mahatma estaria de certeza solidário com o seu jejum. Até porque « protesto pacífico é Índia, Índia é protesto pacífico».



REFERÊNCIA: http://www.jn.pt/revistas/ns/interior.aspx?content_id=1973754




                 Por isso que vários na Índia, são desidratados, desinutridos, um país tão bem desenvolvido, mas que sempre acaba em momentos como este destacado acima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário